
O Afeganistão é cenário das piores manchetes de violência e devastação divulgadas nos últimos anos, essa pode ser a imagem que temos, mas não é a única. Cansados dessa fama, aos poucos surge uma juventude com o desejo de revolução, dentre eles, duas garotas com o sonho de um dia cobrir os sinais da guerra nas ruas com arte.
Shamsia Hassani e Malina Suliman são as primeiras mulheres grafiteiras no Afeganistão, com estilos diferentes usam a arte urbana para encorajar mulheres afegãs a lutarem pelos seus interesses e exigirem igualdade na sociedade islâmica. Ambas dão workshops para formar novos artistas e apoiam projetos que visam popularizar o acesso a arte contemporânea no país.
Malina Suliman tem 23 anos e formada em Realism Art no Paquistão. Ela é pintora, escultora, grafiteira e professora. Com um estilo mais ousado costumava sair à noite escondida para grafitar mensagens com criticas política pelas ruas de Kandahar. Malina já sofreu ameaças do Taliban e após o seu pai ser agredido na rua teve que se refugiar na Índia por alguns meses. Hoje, de volta ao seu país, ainda se arrisca com spray nas ruas e atualmente prepara uma exposição solo.
Conversamos com Shamsia sobre o seu trabalho e os planos para o futuro. Confere ae!
– Você está engajada em popularizar o grafite no Afeganistão. Como é abraçar essa causa em um país onde a arte urbana ainda está engatinhando?
Shamsia: É muito difícil! Como em toda revolução, eu também lido com todo tipo de empecilho, mas enquanto houver interessados, vale a pena permanecer forte. Eu tenho um objetivo valioso e a arte é uma forma amigável de lutar. Eu acredito em mim e acredito na arte.
– Nos seus trabalhos você sempre faz uma conexão entre o lado bom e o lado ruim de ser uma mulher afegã, Qual é a mensagem que você quer passar para elas?
Shamsia: Pra mim é importante mostrar os problemas e as dificuldades das mulheres afegãs, mas ao mesmo tempo eu quero mostrar o lado positivo e representa-las felizes também. É verdade que 90% da vida delas é problema, mas os outros 10% são como um resquício de luz brilhando na escuridão, então 10% pode não ser muito mas já é alguma coisa…e um pouco é o suficiente para quebrar a escuridão, então vamos ser essa luz!
– Como as mulheres afegãs em geral correspondem ao seu trabalho?
Shamsia: Algumas aprovam e me procuram querendo aprender a grafitar e outras não gostam e acham que estou sujando as paredes.
– No que você está trabalhando atualmente?
Shamsia: Estou preparando um workshop de grafite para os estudantes de Fine Arts, esse ano eu pretendo organizar um Festival de Graffiti em Cabul. Esse mês eu vou para Dinamarca e em Outubro para os Estados Unidos, irei grafitar e divulgar o lado positivo do Afeganistão.
– O que você espera alcançar como o artista?
Shamsia: Eu quero mostrar o significado de paz e liberdade, quero apresentar a arte para as pessoas por meio do graffiti e fazer uma cidade colorida esquecer as lembranças da guerra. Também quero comunicar minha luta pelos direitos das mulheres com formas, pois uma imagem pode comunicar mais que uma palavra.